sexta-feira, 27 de junho de 2008

TUNA SABES CANTAR? então...

CANTA (Joaquim Pessoa)

Atreve-te a julgar. Julga os outros julgando-te a ti mesmo.
A natureza das coisas é a tua natureza. Respira-te, despe-te
faz amor com as tuas convicções, não te limites a sorrir
quando não sabes mais o que dizer. Os teus dentes
estão lavados, as tuas mãos são amáveis, mas falta-te
decisão nos passos e firmeza nos gestos.
Procura-te. Tenta encontrar-te antes que te agarre a
voracidade do tempo.
Faz as coisas com paixão. Uma paixão irrequieta,
que não te dê descanso
e te faça doer a respiração. Aspira o ar, bebe-o com força, é
teu, nem um centavo pagarás por ele.
Quanto deves é à vida, o que deves é a ti mesmo. Canta.
Canta a água e a montanha e o pescoço do rio,
e o beijo que deste e o beijo que darás, canta
o trabalho doce da abelha e a paciência com que crescem
as árvores,
canta cada momento que partilhas com amigos, e cada
amigo
como um astro que desponta no firmamento breve do teu
corpo.
E canta o amor. E canta tudo o que tiveres razão para
cantar.
E o que não souberes e o que não entenderes, canta.
Não fujas da alegria. A própria dor ajuda-te a medir
a felicidade. Carrega nos teus ombros os séculos passados e
os séculos vindouros,
muito do pó que sacodes já foi vida, talvez beleza, orgulho,
pedaços de prazer.
A estrela que contemplas talvez já não exista, quem sabe,
o que te ajudou a ser vida de quantas vidas precisou. Canta!
Se sentires medo, canta. Mas se em ti não couber a alegria,
não pares de cantar.
Canta. Canta. Canta. Canta. Canta. Constrói o teu amor,
vive o teu amor,
ama o teu amor. De tudo o que as pessoas querem, o que
mais querem é o amor.
Sem ele, nada nunca foi igual, nada é igual, nada será igual
alguma vez.
Canta. Enquanto esperas, canta.
Canta quando não quiseres esperar.
Canta se não encontrares mais esperança. E canta quando a
esperança te encontrar.
Canta porque te apetece cantar e porque gostas de cantar e
porque sentes que é preciso cantar.
E canta quando já não for preciso. Canta porque és livre.
E canta se te falta a liberdade.

7 comentários:

Jose Rogerio disse...

Olá Zé Morgado:
Parabéns pelo texto de Joaquim Pessoa que publicaste no Blog, porque nos obriga a reflectir e a interrogar a nossa consciência, a nossa interioridade e o nosso eu...
Em termos globais, concordo com o autor quando ele sugere que uma terapia para todos os males individuais e colectivos passa por cantar, cantar, cantar... mas atenção,não está provado que seja totalmente eficaz, nem "remédio santo" para todas as maleitas???
Depois, deixa-me concordar com o autor quando ele desafia cada um de nós a atrever-se a julgar (a si e aos outros...)pois a vida individual e colectiva dos seres pensantes é feita de julgamentos, de reflexões, de apreciações, de opiniões, de avaliações..., mas que as façamos sempre de forma frontal, aberta, transparente, honesta e leal, pois só assim o "mundo pula e avança".Aliás, para não alongar muito a conversa, permite-me só acrescentar que um dos problemas da sociedade actual é as pessoas fazerem "julgamentos injustos", isto é,fazem-nos na sombra, no subterrâneo, nas costas, nas entrelinhas, às escondidas...Bem, vale mais termminar por aqui, porque o teu texto dava "pano para mangas".
Mais uma vez, parabéns por ele e bom fim de semana. JOSÉ ROGÉRIO

Anónimo disse...

Algumas quadras do António Aleixo, da obra "Este Livro que vos deixo...", homem sem prosápia e poeta de sabedoria funda:

À carta que me mandaste,
em troca à minha, que leste,
preferia o que pensaste
àquilo que me escreveste.
(...)
Dás-me pouco, não me espanto
conheço o teu coração
Há poucos que valem tanto
como o muito que outros dão.

Diz tudo quanto quiseres
mas eu, pr'a te ser sincero, daquilo que tu disseres
só acredito o que quero.

Anónimo disse...

Olá ! Valha-me Nossa Senhora da Agrela, que não há santa como ela !
Então, nem aqui no «bilogueee» se dá descanso às análises filosóficas. Ó «sinhores» valha-nos qualquer santinha ! As tunas «intigamente» serviam para as «pissoas s'advertirem». Este tuno analista não estará muito «macabuzio» ? Ó senhor deixe lá o magister, por os escritos do poeta. O magister até percebe do assunto, porque também escreve música e poesia. Não há «nechexidade de analixare» ! Dantes valia a reinação pela reinação e zás lá ía uma canção. Só se analisava o «dvertmento» e parou ! Gozámos ou não gozámos !? Este é um «aerograma», para «voceses» dum velho tunante. Abraços aos «homes, bejos às melheres». Não preciso de análises, porque escrevo com erros de «propósimo» ! Armindo Anónimo

Anónimo disse...

Após a deliciosa leitura do texto "Canta", de Joaquim Pessoa, eis que emerge das memórias da minha juventude o trecho de uma canção (tantas vezes cantada!) e da qual desconheço o autor!
Apenas sei que continua viva no meu baú de recordações ao qual levantei a tampa; deixo que saía subtílmente para que possa partilhar connvosco este momento! Dedico esta minha reflexão a todos os Tunos que durante estes 14 anos deram alma e vida à TUNA SABES CANTAR!!! BEM HAJAM!!!
ISABEL MARIA

"CANTA! CANTA!
CANTA COMO UMA AVE OU UM RIO...
DÁ O TEU BRAÇO
AOS QUE QUEREM SONHAR!
QUEM TIVER MÃOS LIVRES
OU UM ASSOBIO...
NEM É PRECISO QUE SAIBA CANTAR!"

VamosFazeraFesta disse...

Parabéns pela escolha do poema. Não só pelo conteúdo do mesmo, mas por divulgar esse grande poeta que é Joaquim Pessoa, infelizmente tão pouco conhecido do grande público. Tenho o prazer (diria mais a honra!) de ter um poema dele escrito para mim...embora em circunstâncias pouco felizes e que não vêm ao caso.Direi apenas que se chama "Tiago" e é dedicado à memória do meu filho que morreu.
Parabéns também à tuna pelo seu desempenho e persistência, e já agora, obrigada pela vossa participação no nosso convívio (Antigos Alunos do Externato de Ansião). Voltem sempre!
Aproveito ainda para informar a Isabel Maria que o autor e intérprete da canção que ela "retirou do baú das memórias" é o Luis Goes. Abraços para todos os tunos.Já agora...eu sou a Nídia, amiga e conterrânea do Helder.

Anónimo disse...

Olá Nídia.
Os amigos dos amigos, amigos são.
Obrigado pela sugestão: divulgar os nossos poetas poderá ser concretizada.
Volte sempre.

Anónimo disse...

Olá Nídia!
Muito obrigada pela informação que me deixou no seu comentário!
Estive com a Tuna em Ansião mas não a conheço pessoalmente no entanto, pelas suas palavras, consegui perceber que a Nídia também dá o braço "aos que querem sonhar"!
Até sempre!
ISABEL MARIA